segunda-feira, 25 de maio de 2009

nyc


quando eu embarquei sozinha para a viagem que planejamos fazer juntos eu pensei: ou eu estou segurando sozinha o arco da promessa ou não há mais promessa.
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hoje eu pisei pela primeira vez em manhattan e apenas andei sem direçao definida. em menos de meia hora, quatro pessoas me abordaram para para perguntar informaçoes sobre o caminho. ou eu me camuflo muito bem na civilização local ou agora eu ando com a certeza de quem sabe para onde vai.
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eu andei o dia todo por ruas que não têm nenhum significado para mim. que não têm passado e nem futuro. que desaparecem quando eu cruzo o sinal e passo para o quarteirão seguinte. eu achei que andaria a procura de pedaços de mim pelos cantos. mas eu simplesmente não tenho a menor esperança de encontrá-los aqui.
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quando senti fome, entrei num restaurante bom e pedi table for one. comi um peixe no ponto certo, um hot cake de chocolate e uma garrafa de vinho californiano. me levei para jantar. e a companhia estava tão agradável que eu nem percebi o tempo passar. eu olhei em volta e achei que a minha mesa era a mais divertida do restaurante. eu não quis estar em nenhum outro lugar. não é preciso promessas.
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don't think twice, it's all right.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

empty spaces


Now I have only one thing left to do: nothing. I don't want any belongings, any memories. No friends, no love. Those are all traps.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Nós que nos amávamos tanto

Ontem eu almocei com um velho amigo. Fomos os melhores amigos durante os cinco anos de faculdade. Nos conhecemos quando nossos olhos ainda assustados se reconheceram no barulho dos corredores cheios. A ansiedade reverberante de todos aqueles adolescentes querendo virar adultos e a nossa timidez se tornando cúmplices. Descobrimos juntos o que gostaríamos de ler, os filmes que nos atrairiam, as posições políticas que defenderíamos, os pequenos hábitos no centro da cidade, os sebos e os livros antigos, as longas conversas que poderiam durar toda a tarde em um café qualquer ou no pátio vazio da faculdade. Os planos de um futuro incerto. Depois sem saber muito bem por que não nos vimos mais e já faz quase dez anos. Mas ontem eu te olhei e era como se fosse a semana passada. Por trás do seu terno, do seu filho, dos nossos empregos, dos nossos casamentos, tínhamos ainda os mesmos olhares assustados e a mesma ansiedade de quem ainda não entendeu direito o que é ser adulto. De quem ainda espera por um futuro incerto, que pode não vir. E isso já não nos causa medo. Já não somos mais tímidos. Já não falamos dos mesmos assuntos, mas nos entendemos sem reparar no abismo que deixamos para trás. Não somos mais os mesmos e isso não importa. Somos dois estranhos que não precisam ser apresentados. Você entendeu quando eu falei sobre a solidão profunda intrínseca e intransponível que eu não quero mais esconder. E eu fiquei feliz porque a minha solidão reencontrou a sua.

domingo, 3 de maio de 2009

for the good days

domingo

uma TV ligada na casa e a voz de fundo do locutor do futebol. a louça do almoço de domingo toda lavada e bem posicionada no escorredor. eu no quarto tentando estar em outro lugar. isso me lembra a casa dos meus pais nos domingos à tarde. de vez em quanto a vizinhança comemora um gol e eu nem me abalo. ouço gritos e fogos com a indiferença de quem comemora sem expectativas o fim de um ano ruim. dez anos se passaram e eu me sinto no mesmo lugar sendo outra. quantas vezes mais sentirei essa sensação sendo outra? quantos domingos mais eu passarei esperando a hora de partir?

sexta-feira, 1 de maio de 2009

la chute

eu sou uma dessas pessoas em queda-livre tentando segurar em cordas que já foram cortadas. eu queria que alguém aparecesse para segurar a corda, mas acho que isso acontece apenas nos filmes do homem aranha. e eu não sou a louis lane. fuck.
a sensação da queda livre é bastante paradoxal. o abismo é a mais comum representação da morte, mas a adrenalina da queda intensifica todas as sensações de vida. a vida segura e sem adrenalina é a morte em seu disfarce mais comum. não é preciso ser um gênio para desvendá-la. mas é preciso ter coragem para dizê-lo. foi o inconsciente que disse tudo primeiro. e nós o seguimos como garotos bobos que não entendem o que fazem. que se deixam seduzir pelos garotos mais experientes, que têm tatuagem, fumam na rua e nos olham de cima. no fundo, eles cobiçam a nossa inocência. mas não agüentariam voltar para casa para fazer a lição de matemática. o que a gente demorou para perceber é que isso sim é arriscar a vida. eu só torço para que haja algo lá embaixo para amortecer a queda. mas se não tiver, não importa mais. eu acho que consigo agüentar a dor dos ossos se quebrando.

se você for de são paulo não leia esse texto.

Acordei cedo. Não gosto de ter uma gripe rondando o meu corpo. Faz tempo que não saio de casa para quase nada. Vou ao yoga. Corro no parque no meio da tarde e caminho um pouco pelas ruas que compõe o quadrado da minha casa. Tenho evitado metrô. Ônibus. Estou sem carro e isso não é tão ruim. Tenho amigos bons. Amigos com carro. Amigos que eu conheço  há muitos anos. E cada vez mais eu tenho certeza de que o melhor é ficar em casa com esses amigos. Os copos andam sujos demais. A cerveja não é a melhor pedida e essa cidade não presta nas noites antes dos grandes feriados. Mas eu tento. Eu sempre acredito que pode ser legal.

Como quando você está em casa e se depara com Gal Costa cantando “Dê um Rolê”. Impossível não acreditar se é ela quem diz que a vida é boa. É preciso estar atento às datas das canções. Aprendo isso um pouco mais a cada dia. Se alguém te diz “não se assuste pessoa se eu lhe disser que a vida é boa” por favor entenda que isso foi escrito em mil novecentos e setenta e pouco e isso já faz parte do passado. Atente às canções de agora. Por mais vazias que elas possam ser.

Mas às vezes ficamos desatentos e a desatenção é um perigo. Sim. São Paulo é uma selva e eu estou longe daqui faz muito tempo. Não me acostumei. E não pretendo me acostumar a essa cidade.

Pegar o metrô às seis da tarde pode ser quente demais. Mas sempre tem uma menina que também poderia simplesmente ser a sua musa. Talvez eu devesse ter simplesmente seguido a menina bonita que estava no mesmo vagão que eu. De vez em quando ela desviava os olhos do livro e ela tinha olhos de coelho assustado e eu pensei em Alice. Em seguir simplesmente alguém sem saber onde eu poderia chegar. Eu fazia isso quando cheguei aqui. Nas festas eu escolhia uma pessoa para seguir. E não seguia apenas dentro do salão. Uma vez caminhei da augusta até depois da Vila Mariana. Até São Judas. E valeu à pena. Ganhei uma amiga. Até hoje, depois do sexo, depois dos beijos, depois das perseguições, o que perseverou foi um tipo de amizade que nos une para sempre. Éramos quase adolescentes. Somos para sempre adolescentes. Mas brincar de gato e rato ainda é coisa para os mais novos.

Mas você sai na estação Consolação e a menina continua lendo o seu livro e a vontade que implica você ter para sair de um metrô precisa ser grande demais. Cada espaço, por menor que seja, implica contato. Cada passo é um contrario à direção de alguém. Mas eu atravessei o mar quente de pessoas feias e cheguei à superfície. No alto da paulista respirei o ar pesado da noite de ontem. E não foi bom. Não é bom. Olhei para o céu, mas não dava para ver muita coisa. Entrei no Banco do Brasil. Saquei sem medo de ser roubado com sorriso nos lábios. O dinheiro é o passaporte para a felicidade. Trate de ganhar o seu se quiser continuar aqui.

Depois Livraria Cultura. O livro de correspondências da Clarice Lispector. A identificação imediata com quase todas as linhas. Sentado na pequena sala de estar esqueci o mundo por dez paginas antes de encontrar uma menina. Uma menina que nasceu lá longe onde eu nasci. Uma menina que era minha colega de escola e que hoje tem o seu escritório de arquitetura em algum lugar bem alto dos prédios bonitos da avenida paulista. Atravessamos as ruas na direção do centro. As mesmas pessoas subindo a Augusta. Os mesmos papos entre nós dois. O mesmo conflito de nove meses atrás. Depois um kebab. Aproveitar cada mordida. Nada como comer em São Paulo. Nada como pagar em São Paulo.

Depois caminhar mais um pouco. Descer sempre mais. receber chamadas. Atender chamadas. Escrever mensagens. O mundo sempre se surpreende quando tudo o que você deveria fazer é voltar para casa. Mas você pede mais uma cerveja e é claro que mais uma cerveja e sempre mais uma cerveja. Alguma coisa dentro de mim dizendo que vinho ainda é melhor. Que o tapete da minha sala está mais limpo do que a calçada onde crianças brincam e sujam o mesmo ar que respiramos. Peço à dona do bar que toque mais uma vez “Maria Bethânia”, a canção que Caetano fez no exílio. Mas a dona do bar responde que não lembra em qual disco ela havia gravado essa canção e, na verdade, ela não sabe sobre qual musica estou falando e canto um pedaço mas a expressão do seu rosto continua a mesma. Me olhando como quem perde tempo. Aqui sou apenas uma bêbado inconveniente. Um bêbado inconveniente que bebe cerveja cara e experimenta um rodízio de amigos. Quando ela me olha assim eu sei que eu deveria estar em casa. Ouvindo as minhas musicas. Bebendo nos meus copos. Com todos os telefones desligados. É assim que os gênios criam suas grandes obras. Não tenho o menor saco para cronistas urbanos e menos ainda para filosofia de mesa de bar. Mas às vezes a gente esquece. E cai na armadilha mais perigosa. A armadilha da desatenção. Dos goles feitos de inércia. Dos olhares carregados da mais pura verdade: aqui não sou ninguém.