quarta-feira, 29 de abril de 2009

synopsis



stories without endings can do nothing but go on forever. and to be caught in one means that you must die before your part in it is played out. my only hope is that i will find a break in the darkness. this hope is what i define as courage, but wheather there is a reason to hope is another question entirely.

domingo, 26 de abril de 2009

ilha deserta

Comunicar-se é uma forma sofisticada de dar um grito de angústia. Sinal desesperado feito da costa ao navio, embora seja cada vez mais raro ser notado por algum tripulante. O mundo é cheio de solidões nascidas e mortas precocemente em suas ilhas. Por esquizofrenia natural ou induzida, meus dias têm sido uma sucessão sobressaltada de estados de espírito. Primeira fase: tentativas de adaptar-me à ilha deserta. Segunda fase: fazer sinais com a camisa. Terceira fase: gritar por socorro. Quarta fase: enviar em código morse a forma exata dos meus apelos. Quinta fase: deixar-me cair na areia, com o rosto entre as mãos

sábado, 25 de abril de 2009

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um amuleto que guardamos dentro de nós. e a confraria só faz aumentar.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

all i've got is sunny afternoon

eu gosto dos dias ensolarados. eu me sinto como aqueles tapetes velhos colocados ao sol para perderem os fungos. é como se os raios de sol estivessem agora matando os vermes que haviam começado a consumir o meu corpo durante a noite. eu fecho os meus olhos cansados de chorar e sinto uma sensação boa. como se alguém se preocupasse em me dar calor. como se o calor aliviasse as dores e fosse aos poucos amolecendo os meus músculos rígidos. eu me sinto bem agora e acho que um pouco de lugar-comum não faz mal a ninguém.





Hoje no almoço conversávamos sobre as palavras. Sempre e Nunca são no fundo palavras ligadas à morte. À imutabilidade que não é própria dos vivos. Eu penso em quantas vezes já as dissemos sem saber para onde elas nos levariam. Quantos nós estávamos dando em torno dos nossos próprios calcanhares, sem querer. Quantas vezes eles nos fizeram tropeçar em nós mesmos e nos impediram de nos levantar até que descobríssemos a beleza de viver perto do chão.

domingo, 19 de abril de 2009

avez-vous l’habitude de partir?

Agora nossa casa me olha como se eu fosse uma estranha. É como se os porteiros já soubessem que eu sou uma intrusa e os vizinhos me olhassem diferente no elevador. Eu deito no sofá e ajeito a minha postura, como se não estivesse entre amigos. Como se até as lembranças que eu levar daqui terão sido roubadas. Eu ouço os objetos sussurrando coisas sobre mim. Eles também não querem partir. Eles não partirão. Eles simplesmente não se movem. E não fazem menção de me acompanhar. A vitrola continua arranhando os discos, como se nada estivesse acontecendo. A minha respiração ofegante não afeta sua velocidade. A voz da cantora não tem doses adicionais de tristeza para se adequar à ocasião. Os quadros me olham brevemente e voltam a se acomodar nas paredes. O vizinhos do prédio em frente encenam para mim suas vidas cotidianas e não o fazem como se fosse a última noite de uma temporada. As paredes coloridas não ficarão mais pálidas sem mim. A samambaia da cozinha continuará crescendo. As traças que roem os livros andarão mais livremente. Tudo permanecerá igual. O pequeno espaço vazio que meu corpo deixará logo será acomodado pelo cotidiano. Pelo sol que entra no quarto pelas manhãs e se põe na sala todas as tardes inelutavelmente. A vida aqui vai continuar sem grandes alardes. Talvez apenas mais silenciosa. Sobrará mais comida na geladeira. Você dormirá mais noites no sofá. Meu tênis não estará mais atrapalhando os caminhos. Haverá menos desordem talvez. A ausência do piano será lamentada nos dias de festa, mas outros instrumentos poderão preencher os seus silêncios. Agora eu sinto que meus pés estão mais pesados que os pés desta cadeira. E tão fincados no chão quanto os dela. Trata-se de algo sobre a minha natureza que eu nunca soube explicar. Talvez seja algo pouco humano que aos poucos vou descobrindo sobre mim mesma. Mover-se não deveria ser tão difícil. Partir para ocupar novos espaços deveria ser mais natural, mais orgânico. Mas agora eu me sinto pesada demais para arrastar meu corpo pelo piso de madeira desta sala sem deixar marcas e sem fazer ruído.
esse é o meu avô comemorando a chegada da era de aquário em uma praia latina de ano desconhecido.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

fear


Agora eu estou apenas me sentindo a pessoa mais sozinha do mundo e começando a entender que é assim que vai ser. E tudo o que eu sinto é uma espécie de nostalgia da semana passada. Poucas coisas são irreversíveis e acho que uma delas é quando você entende algo. Não é possível mais esquecer. Como aqueles desenhos que a professora de educação artística mostrava para falar de semiótica. Se nos esforçássemos para olhá-los sob ângulos diferentes, conseguiríamos reconhecer ali uma determinada imagem (eu até hoje me lembro de um que era uma velha enrugada e com um chapéu esquisito e, se virássemos a folha de ponta-cabeça, uma garota). Quem conseguia ver essas imagens fazendo sentido pela primeira vez, nunca mais conseguia desviar o olhar delas. Aquilo nunca mais voltava a ser um emaranhado de linhas qualquer. A inocência quando se perde, não podemos recuperar. Eu tenho nostalgia da semana passada. Da inocência perdida. De um passado tão recente e que parece tão inalcançável agora. O momento em que tínhamos ainda o fim de semana inteiro pela frente. Você me levaria para conhecer todos os seus lugares. Mataríamos as saudades. Apenas um passeio com meu melhor amigo. O dia em que peguei o avião para visitar você e não sabia que encontraria a minha própria escuridão vagando nos bosques alaranjados da sua cidade. As risadas descomprometidas, as músicas que ouviríamos e cantaríamos e dançaríamos. Eu não achei que iria morrer.
Quando você me levou para conhecer a ponte, eu já sabia muitas das histórias que ela guarda. Mas nunca pensei que eu própria poderia cair dela. Arrebentar o meu corpo na água verde que reflete a ferragem de cor cobre. Engolir um pouco da água contaminada pela sujeira química. Eu me pergunto porque tanta gente foi atraída para baixo. Tantas mortes não acidentais. Penso inutilmente nas causas. Em quantas pessoas já puderam enxergar melhor quando a neblina branca se dissipou e o sol nasceu no céu cor-de-rosa. Quantas vidas deixaram de ser reais quando contrastadas com essa luz. Quantos quiseram se sentir tão livres quanto os pássaros que cruzavam o céu naquele momento. Ou simplesmente desaparecer naquela paisagem feita para que os humanos se sintam intrusos. A luz natural penetrando nas retinas e curando os defeitos da vista. A violência com que ela entra nos olhos acostumados com a noite e com a sombra. Talvez queimando algo que só perceberemos quando ficarmos velhos e formos progressivamente perdendo a visão. Eu me lembro do momento em que as risadas silenciaram. O momento em que a vodka já não fazia mais efeito e eu não me sentia mais nem alegre, nem tonta. Os olhares que deixaram de ser cúmplices. As solidões de cada um de nós se separando. Os contornos se tornando nítidos. O cinza virando cor. Eu podia cruzar toda a ponte me equilibrando no caminho traçado pela viga de madeira. Meus pés em movimentos premeditados. A estranha sensação de me sentir demasiadamente sóbria. E a calma de descobrir que tivemos o suficiente. E que o suficiente é suficiente. A opressão que sempre sinto diante das paisagens naturais dessa vez me fazia feliz. Me mostrava que talvez não houvesse muita diferença entre ir ou ficar. Que ninguém se importaria. E que isso não era ruim. Que algumas coisas são mais simples do que imaginamos e que nem sempre podemos decidir sobre tudo. Há decisões que já foram tomadas e ouvir a verdade nem sempre machuca. Agora eu vivo sob a luz daquele sol que não me deixa esquecer das cores que eu vi naquele amanhecer. Que não me deixa ajustar o controle da máquina fotográfica, para voltar a tirar fotos em variações de cinza. A neblina que não torna a aparecer e que já não me protege mais. Os meus olhos agora estão cansados de ver. Eu preciso dormir e tentar sonhar um pouco. Com sorte, sonharei com o passado. Eu queria que alguém me protegesse enquanto eu durmo. Que algum quero-quero pousasse sobre a minha cabeça e a protegesse como se fosse seu ninho. Eu queria ter a sombra da árvore solitária que fica no meio do milharal. Mas hoje eu sou a árvore. Eu sou o pássaro que não tem mais o que vigiar. E que mesmo assim permanece imóvel.

domingo, 5 de abril de 2009

poesia porteña. para lamentar o fato de não estar aí.


No nombrar las cosas por sus nombres. Las cosas tienen bordes dentados, vegetación lujuriosa. Pero quién habla en la habitación llena de ojos. Quién dentellea con una boca de papel. Nombres que vienen, sombras con máscaras. Cúrame del vacío --dije. (La luz se amaba en mi oscuridad. Supe que ya no había cuando me encontré diciendo: soy yo.) Cúrame --dije.

(Alejandra Pizarnik, 1968)

sábado, 4 de abril de 2009

house of cards

Eu escrevi até o limite do meu cinismo. E tenho vontade de vomitar quando penso nas palavras espalhadas tecnocraticamente pelas quatrocentas e treze folhas de papel, que provavelmente nunca serão lidas. Nunca virão a ser comunicação. Eu acho cada vez mais difícil acreditar em mim quando o que eu digo pretende seguir a linha de um discurso racional. Palavras colocadas lado a lado com um objetivo definido. Eu já não acredito mais nisso. E eu acho que tudo começou quando estávamos sentados aí nesse café. Você de costas para a parede rabiscada, me perguntava o que eu entendia por racional e eu fiquei muda. Sem saber responder. A sua expressão poderia ser ao mesmo tempo a de quem estava fazendo uma pergunta sincera ou a de quem só estava socraticamente me fazendo enxergar algo. Descobrir por mim mesma. Eu tenho certeza que se tratava do segundo caso e talvez tenha sido um ato seu de generosidade ou amor. Ou pena. Você querendo que eu entendesse algo que já havia entendido. E que poderia mudar a minha vida para melhor. Me dei conta de que eu estava habitando uma casa feita de cartas. Maior do que eu preciso. Com muitos banheiros. Quase todo o ocidente habitando essa construção a ponto de desabar. Olhava para os rabiscos da parede e chegava à conclusão de que não havia diferença entre eles e os livros da estante. E o dono dessa livraria, assim como você, já devia saber de tudo. Por isso deixou que as pessoas rabiscassem a parede. E manteve o segredo na vitrine de vidro fechada, onde são guardados os cds importados. Coisas que não são mais compradas. Compartimentos raramente abertos. A razão é só mais uma religião que perde o poder de explicar o mundo. Deixa de ser factível no momento em que olhamos em volta e vemos o primeiro cachorro atravessando a rua como se fosse gente. Aquele momento no café não tem mais volta. Não há mais como recuperar a inocência.
Agora as minhas mãos doem de tendinite. Eu sentada no sofá assistindo a alguma coisa já começada na tv. Um concurso de truques de mágica. Um mágico jovem e sua nova assistente. É legal pegar filmes começados e tentar imaginar o que aconteceu antes. Eles são claramente um casal em uma conversação amorosa, vestidos em roupas ridículas de mágico e assistente de mágico. Um universo tão estranho quanto o dos anões, Ele, apaixonado, revela que degolou sua esposa há menos de um ano no número da guilhotina. Seus olhos cheios de lágrima, a voz embargada. Sua vida destruída. E só agora percebera que poderia seguir vivendo, apesar do episódio. Um novo amor. Mas ele temia que a nova assistente/amante o abandonasse assim que soubesse do precedente. Sua vida estaria novamente arrasada. Daí a tensão daquele momento. E ela diz: - Não, eu não vou te deixar. Eu fico mais tranqüila agora em saber que isso aconteceu, pois um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar. E ele, quase nada aliviado, diz que na verdade é possível demonstrar matematicamente que isso pode acontecer. O raio pode cair sim duas vezes no mesmo lugar. Ele não consegue se render à ignorância do argumento dela. Evoca a prova matemática para fundamentar sua própria desgraça. Os seriados da tv às vezes surpreendem.
Eu vejo você aí sentado de costas para a mesma parede e é como se de novo estivesse me mandando o mesmo recado. Liberte-se das armadilhas da razão. Lembre-se do tempo que estávamos nus e andávamos descalça na rua. E não tínhamos ainda construído nossa casa.