quinta-feira, 7 de maio de 2009

Nós que nos amávamos tanto

Ontem eu almocei com um velho amigo. Fomos os melhores amigos durante os cinco anos de faculdade. Nos conhecemos quando nossos olhos ainda assustados se reconheceram no barulho dos corredores cheios. A ansiedade reverberante de todos aqueles adolescentes querendo virar adultos e a nossa timidez se tornando cúmplices. Descobrimos juntos o que gostaríamos de ler, os filmes que nos atrairiam, as posições políticas que defenderíamos, os pequenos hábitos no centro da cidade, os sebos e os livros antigos, as longas conversas que poderiam durar toda a tarde em um café qualquer ou no pátio vazio da faculdade. Os planos de um futuro incerto. Depois sem saber muito bem por que não nos vimos mais e já faz quase dez anos. Mas ontem eu te olhei e era como se fosse a semana passada. Por trás do seu terno, do seu filho, dos nossos empregos, dos nossos casamentos, tínhamos ainda os mesmos olhares assustados e a mesma ansiedade de quem ainda não entendeu direito o que é ser adulto. De quem ainda espera por um futuro incerto, que pode não vir. E isso já não nos causa medo. Já não somos mais tímidos. Já não falamos dos mesmos assuntos, mas nos entendemos sem reparar no abismo que deixamos para trás. Não somos mais os mesmos e isso não importa. Somos dois estranhos que não precisam ser apresentados. Você entendeu quando eu falei sobre a solidão profunda intrínseca e intransponível que eu não quero mais esconder. E eu fiquei feliz porque a minha solidão reencontrou a sua.

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