- why don't you get lost?
domingo, 20 de junho de 2010
- why don't you get lost?
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Les parapluies de Cherbourg (ou, em português, os guarda-chuvas do amor) [für v.]

era uma prova à nossa sincronicidade e eu corri o risco. porque um dos meus lugares preferidos de berlim é de uma beleza bem estranha. ou de uma feiura tamanha, que já virou beleza. a ponte sobre os trilhos de trem enferrujados, de onde se vêem prédios industriais de formas retas e cores desbotadas, muros pichados e sujeira preta por toda a parte. onde a neve já não é branca, porque a neve pisada diariamente por centenas de pessoas indo e voltando dos seus trabalhos e dos seus não trabalhos em friedrichshein não é a neve branca dos parques onde as crianças de prenzlauerberg andam de trenó. é o chão dos que sabem se camuflar e não querem ser vistos. é onde cada um se sente mais si e mais ninguém. olhei primeiro para o trem passando. a luz amarela e o calor de dentro dos vagões era uma provocação para mim e vc nem ligou. o trem é sempre o lugar para onde se pode ir para conseguir proteção ao preço de um bilhete validado caso apareça o controlador à paisana. um lugar quente à janela e uma mesinha onde se pode trabalhar enquanto a paisagem te atravessa sem te machucar. eu pensei nisso e me senti estranha por estar fora, sentindo o frio quase congelando meus pés. vc acho que não. claro que não. vc só se debruçou no parapeito pixado da ponte e ficou. eu olhando o trem e vc olhando o céu. eu penso mais em partir e vc pensa mais em ficar, ainda que seja pelo tempo de um instante. é uma dessas situações em que dá no mesmo e o que faz diferença é só a intenção. e por isso mesmo é uma dessas situações que não se consegue dizer. é impossível saber qual. por isso vc só produziu uma onomatopeia e declamou a citação do deleuze como se ele fosse um deus. depois traduziu do francês. alguma palavra que vc não encontrou em alemão não fez diferença porque eu já tinha entendido em francês. vc sempre esquece que eu entendo francês e que eu quase poderia falar se tomasse coragem. mas eu não me importo em ouvir a mesma coisa só que em línguas diferentes. eu até gosto. a imagem do buraco no céu tomou conta e a gente nem notou que estávamos misturando as línguas. a metáfora do declínio da sociedade industrial pelos ferros enferrujados já não interessava. embarcar num outro nível de vínculo com alguém é sempre algo que a gente não sabe de onde e nem como vem. só fomos inocentes em achar que era só nós dois. os raios do sol pelo buraco que se abriu na cobertura cinza e maciça que era um teto já não tinha nada a ver com o sopro da bomba que abriu brechas na parede de tijolos vermelhos durante a guerra. era justamente o oposto.
eu precisei de vc para fazer furos no meu guarda-chuva. e não pensei que, agora furado, ele não me protege mais quando chove.
- is it all over now baby blue?
- talvez. mas isso não é triste.
terça-feira, 11 de maio de 2010
Tem uma lenda indiana que diz que quando vc domina completamente uma postura de yoga, as dualidades cessam e você medita no infinito. Dominar uma postura de yoga não é algo simples. Envolve manter o alinhamento, a coluna alongada, os ombros longe das orelhas e os musculos contraidos na medida certa. Continuar respirando calma e profundamente e manter o rosto sereno. De preferencia com um leve sorriso. É atenção total no próprio corpo. Entender como ele se move durante a imobilidade. Do que ele precisa. Na maior parte das vezes, ele só precisa que a respiração seja controlada. Respiração ofegante só é boa se não for por ansiedade, medo ou esforço. Dominar a postura é estar inteiro nela. Todos os sentidos alerta pra captar o prazer que ela te dá. O prazer sutil de uma vértebra que ganha mais espaço. O prazer de não ter passado, nem planos. Não é à toa que todas as dualidades cessam. Elas não acontecem no presente.
Dá um trabalhão conseguir isso, mas vale a pena.
Essa frase nao é minha, é dele. Eu lembrei dela agora e achei que cabia para falar da postura de yoga. Mas foi dita em outro contexto.
Ele olhou pra mim e disse: dá um trabalhão construir um amor, mas vale a pena.
E eu fiquei com vontade de dizer: dá, e só vale a pena se for igual a meditar no infinito.