segunda-feira, 2 de março de 2009

blue monday



Da minha janela eu também olho as pessoas no prédio em frente. Dois homens sentados na varanda conversando. Eu suponho que um deles seja mais velho que o outro, por causa da sua postura curvada. Mas em seguida eu penso que pessoas novas também podem sentar-se com as costas curvadas. Como eu depois de ficar horas trabalhando sem vontade na frente do computador. Uma forma de envelhecimento precoce. No andar de baixo, há uma mulher brincando com seu cachorro. Um cachorro de porte médio em um apartamento que aparentemente é bem pequeno. Ela aparentemente mora sozinha. Eu acho que nos dias de hoje o cachorro é o grande responsável pela manutenção da auto-estima das pessoas em níveis minimamente salubres. É o paliativo perfeito para os solitários e carentes crônicos. Aqueles cuja existência não tem justificativa melhor que a de alimentar seu único amigo. Aqueles que não são amados suficientemente. Habitamos ainda a mesma segunda-feira. Um dia que não deveria ter existido e não parece ter hora para acabar. Às vezes eu penso que o passar do tempo não se mede por horas, nem por dias, semanas, meses ou anos. Mas sim por dias de solidão e de tristeza. Dias compridos que se alargam e se deformam como fantasmas. Eu me pergunto quantos dias como esse nós já passamos desde que vimos pulp fiction no cinema. E acho que essa é a resposta exata da nossa idade. Eu me preocupo bem menos com a idade desde que cheguei à conclusão de que pessoas como nós só conseguem olhar para si mesmos e se sentir felizes porque sabem que encontrarão a dose certa de solidão e tristeza. A capacidade destrutiva necessária para desafiar o que está a nossa volta e impedir que nos entediem. Eliminar a todo o momento os vestígios de nós mesmos e do mundo para ver o que nascerá de novo. Quais novos caminhos se abrirão. Fique tranqüilo, porque sob o solo destruído tudo acontece de novo pela primeira vez.

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