quinta-feira, 25 de março de 2010

the horses are here

eu vinha andando rápido pelo lado direito, desviando em zigue-zague das pessoas que caminhavam na direção oposta, quando soou o aviso seco e as portas se fecharam. o trem que me levaria a baden-baden começou a se movimentar e eu perdi a conexão. esse é o momento em que vc se sente como se estivesse de pé no centro da quadra do jogo de vôlei do colégio vendo a bola passar bem acima da sua cabeça. não há o que fazer. ela não esta mais ao seu alcance, mas isso nem é ruim. vc só tem que se posicionar novamente e esperar pelo próximo saque. eu acompanhei tudo só com o movimento do pescoco e qdo minha cabeça terminou de fazer o arco e voltou a estar no mesmo eixo que a coluna, eu pensei numa coisa que eu havia lido em algum lugar e até hj não me lembro onde. algo que dizia sobre a transformação do tempo que acontece nesse exato minuto em que a porta do vagão se fecha e o trem começa a andar te deixando do lado de fora. de repente o tempo, que era escasso, fica abundante. vc tem tempo de sobra prá matar até que o proximo trem passe. aquilo que era só pressa e ânsia vira uma espécie de espera calma e entediante. sentada no banco da estação, vc já nem olha mais o relógio e só precisa pensar em fazer algo para se entreter. mirar o olhar longe até os seus olhos alcançarem o horizonte lá no fundo, depois das árvores, e procurar um pensamento agradável para seguir. o próximo trem chegará na plataforma 6 às 17:37 e se vc vai ou não conseguir pegá-lo não está mais em questão. é um sentimento meio contraditório, porque no instante em que o tempo em vez de fugir resolve ficar, vc imediatamente se sente de mãos vazias. vc olha pros lados e nem sabe direito o que fazer com elas. aquilo q vc tentava esmagar com a força dos dedos desaparece rápido. vc já não precisa ficar oscilando ofegantemente entre o pessimismo incrédulo e o otimismo místico. tudo isso acaba de escorrer pelos vãos dos seus dedos e cair no chão sujo da estação. eu deixei cair a última mordida do sanduiche que estava comendo. aquele pedaço de pão já estava quase apodrecendo, mas eu queria continuar não sei bem porquê. eu me sinto aliviada, mas ao mesmo tempo um pouco perdida. olho de um jeito meio nostálgico para aquilo que já estava me dando náuseas, mas por alguma razão queria continuar mastigando. eu sei que não posso pegar de volta do chão. eu nem quero, mas penso nessa possibilidade. no final das contas, sinto uma espécie de resignaçao boa. devagar eu me sento no banco da estação e é como se ao mesmo tempo nada estivesse faltando e tudo estivesse faltando. é uma espécie de vazio satisfeito. sinto que o banco é confortável, mas sei que em algum momento ele vai começar a me incomodar. por enquanto isso não me preocupa. eu deixo a mochila do meu lado direito e vou girando o botão redondo do ipod para baixo até parar em uma das minhas musicas preferidas. escolho um canto bonito do céu para estar olhando bem no momento em que ela começar a tocar. eu sei que em breve estarei atravessando o país em direção ao sul, onde a primavera já chegou. mas por enquanto estou sentindo o chão frio e firme bem embaixo dos meus pés. não há angustia. está tudo certo, mas esperar por vc é como estar sentada no banco da plataforma 6.

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