quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009


Já faz quase três semanas que estou de volta à cidade grande que costumava habitar e ainda não encontrei o caminho de casa. Eu olho este lugar de fora, como se ele não fosse meu. Eu olho as pessoas que me cercam e me pergunto se as conheço. Eu estranho as formas do meu próprio corpo. É como se nada fosse meu. Nada mais como era antes. É como se eu ainda estivesse sobrevoando livremente os meus dois mundos. Como se ainda pudesse escolher entre uma das minhas duas vidas. Mas eu sei que quando eu cair, não haverá escolhas a serem feitas. O calor daqui vai aos poucos derretendo o meu passado. Ressaltando a minha corporalidade. Eu tenho a impressão de que algo em nosso corpo fica adormecido no frio. Quase não suamos. Quase não o sentimos por baixo dos casacos. Quase não desejamos. Mas o ar quente daqui derrete os fluidos congelados. Soltamos água. Temos cheiros. Pisamos o chão. E quase não precisamos de roupas. Isso traz o meu corpo para mais perto do mundo. Sem proteções. Sem amortecimentos. Eu me lembro do dia em que caminhei até um dos picos da floresta. O chão escorregadio por causa da neve. Eu caí duas vezes e não senti nada, pois o casaco grosso amorteceu a queda. Aqui, as nossas quedas ficam marcadas no corpo. Aqui, eu estou bem perto do chão e sinto totalmente a sua aspereza.
Todos os dias eu olho para o meu corpo abandonado, ausente de mim mesma. Quase não há energia nele. Como se o meu metabolismo funcionasse no mínimo. Apenas para manter as funções vitais, enquanto eu penso o que vou fazer de mim mesma. Enquanto eu tento entender o que significa ser vital.

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