segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

para peca

Esses foram dias de silêncio. Eu acho que isso deve ter um nome, mas eu não consigo ainda encontrar nenhuma palavra para dizer. Nem as nossas lágrimas ou nossos olhares vazios puderam dizer. Eu não pude escrever. Mas pelo menos uma coisa deve ser dita, que o mundo certamente ficou mais chato sem você. E mais sozinho. Eu olho em volta e sinto um pouco de pena de nós que ficamos aqui, porque teremos menos piadas, menos risadas. Mais tabus e regras que não serão quebrados. Mais papéis sociais que não serão desafiados. Mais contas bancárias. Ninguém mais para explicar o mundo sem se importar com a diferença entre verdade e imaginação. Uma fronteira inútil de ser perseguida e você já sabia disso há muito tempo. Ninguém mais para me dizer que atrás das estantes de bolacha da padaria suja, há computadores novos com conexão rápida à internet. Que há sempre muitas possibilidades de se divertir, mesmo quando as estantes as escondem. Eu ouço uma musica de Bob Dylan que se chama Sad eyed lady from the lowlands e a história dessa musica me faz lembrar você. Um dia Bob Dylan apareceu com ela no estúdio, mostrou aos músicos como tocar uma estrofe e começou. Os músicos o acompanharam, mas não conheciam a música e depois de alguns minutos achavam que ela estaria prestes a acabar. E a cada nova estrofe, davam tudo de si achando que seria a última. A cada nova estrofe, tocavam no limite de suas forças. E por isso essa gravação é uma das coisas mais lindas que eu já ouvi. E a beleza dela é justamente a possibilidade do fim. Eu penso em sua partida repentina e sem despedidas. E apesar da tristeza, eu finalmente posso entender que a beleza da vida é justamente a certeza de que partiremos e não há hora certa para isso. Eu acho que você já sabia disso e por isso viveu com todas as suas forças cada uma das estrofes da sua vida. Como poucos, sabia exatamente o que significa ser humano e por isso a canção que você assoviava tinha a mesma beleza que eu reconheço nessa música. A beleza daqueles que seguram a vida com as duas mãos e não se incomodam com o peso da existência. Você sempre soube que a existência é leve e veloz como o vento que te atravessava quando você cruzava este país em sua moto.

Aos poucos vamos entendendo que não há o que fazer. Que talvez a única coisa a ser feita é viver leve, como você. Não mais esperar que alguma coisa nos faça flutuar. Tentar alcançar agora o mesmo vento que um dia tocou o seu rosto.

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