quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

parede

Hoje eu pendurei na parede o quadro que você me deu. Você pintou nele as listras de um televisor fora do ar. Um sinal do tempo em que nos dessintonizamos. Em que o sinal foi perdido. Talvez você também se pergunte porque não pudemos resistir à distancia e não conseguimos utilizar os paliativos contra ela. Nos aprisionamos numa espécie de mundo paralelo que aos poucos foi se dissolvendo e virando reminiscências de um sonho. Como se nunca tivéssemos existido. Como se nunca tivéssemos sido verdade. Como se houvesse alguma diferença entre sonho e realidade.
A cada vez que nos reencontramos é como se fôssemos estranhas e tivéssemos que nos conhecer novamente. Deixar vir aos poucos a memória. Reconquistar a intimidade. Relembrar os hábitos. Retomar as conversas interrompidas porque nunca tivemos tempo suficiente. Agora eu olharei para o seu quadro todos os dias. Talvez eu pense em você. Talvez eu lembre da época em que não havia TV a cabo e era difícil sintonizar os canais. E minha avó colocava um pedaço de bombril na antena para podermos assistir novela. Talvez eu lembre da minha professora de educação artística falando sobre as cores primárias. Provavelmente eu nunca vou conseguir entender nada disso.

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