terça-feira, 18 de agosto de 2009

cioran

é que neste mês eu perdi a cama de ar que me protegia na hora da queda. e ao alcançar o chão gelado eu tive que tentar manter meu corpo aquecido sozinha. sem abraços e sem aquecimento a gás. descobri que se vc respirar bem fundo a respiração que aprende a fazer na aula de yoga, vai manter o seu corpo aquecido. vai até chegar a produzir energia apenas com a contração dos seus músculos. é que para viver precisamos de bem menos do que pensamos. menos comida, menos espaço, menos dinheiro, menos trabalho e menos companhia. e isso é bom porque é uma forma de independência. uma forma de se afirmar como algo um pouco menos determinado pelas necessidades biológicas. e eu me pergunto se isso é possível. e eu me pergunto se isso é necessário. eu gosto cada vez mais de ser apenas um corpo. eu conheci alguém cujo sonho é viver de luz e achei isso bonito. alguém que leva a vida apegado a um sonho que é chegar ao grau máximo do desapego e por isso é alguém certamente paradoxal. eu estou sempre pronta para amar pessoas paradoxais. porque é como se as duas pontas dos nossos paradoxos se encontrassem em algum lugar e produzissem um som calmo. hj eu falei para o meu analista sobre as minhas ambivalências. eu digo ambivalência e ele diz divisão. mas eu não tive tempo de explicar para ele que não há divisão quando tudo é apenas a mesma coisa vista de pontos de vista diferentes ou em diferentes contextos. não é preciso compreender física quantica para entender as várias dimensões da nossa existência. não há uma garota partida ao meio como se fosse um filme do chabrol. isto não é um filme. quase tudo no mundo dos vivos é ambivalente e os bons filmes apenas tentam imitar isso. há sempre a possibilidade de se surpreender. de que algo aconteça por acaso ou coincidência. e isso reverbera de um jeito diferente se vc encostar o seu ouvido no chão. se apesar do frio, tentar ouvir as oscilações conduzidas pelo material de que é feito o chão. a única coisa que me dá medo dessa história de viver de luz é de repente não conseguir mais sair do metabolismo basal. viver no metabolismo basal me assusta porque não é bom, nem ruim, nem ambivalente. é simplesmente neutro. e essa nao é uma característica humana, embora chamem isso de vida. agora: se vc vive em metabolismo basal mesmo fazendo todas as suas refeições, isso é muito pior. porque vc está a um passo de começar a acumular coisas estranhas no seu corpo. toxinas, gorduras, tristezas. é bom vc começar logo a fazer exercício ou arrumar um sonho que consuma suas energias. e no momento seguinte vc vai se reconhecer quando alguém citar um poema de cioran dizendo que a solidão é o afrodisíaco da alma.

2 comentários:

t. disse...

m.
tu nunca pensou em escrever um livro? cada vez que leio teu blog penso mais na miranda july e toda a genialidade que há nisso.
saudade.

leila fletcher disse...

quem dera... see you soon!