domingo, 30 de agosto de 2009

Meu mundo Thelonious Monk's blues

Eu sinto nostalgia das manhãs em que fazíamos yoga olhando para a torre de tv da alexanderplatz. Sempre que meus olhos passavam sem querer por ela eu os fazia voltar e olhar bem fixo para o alto da torre para ter certeza de que aquela visão era real. E ao mirar o alto da torre cercado pela névoa fria daquele inverno, eu sempre duvidada do real. Eu fazia questão de dedicar um tempo para me maravilhar com a cotidianeidade extraordinária de poder olhar, sem mais, a torre de tv da alexanderplatz numa manha de sábado nublada e fria. Com a dúvida persistente de viver como se estivesse em um sonho bom. Quando eu sentei em uma das cadeiras do jardim de luxemburgo, escorreguei o corpo para baixo para deitar a cabeça no encosto, acomodei os pés na cadeira da frente e finalmente fechei os olhos para sentir o sol esquentando o meu rosto, eu pensei a mesma coisa. Ficar atenta. Sentir todos os cheiros. Ouvir todos os sons. Sentir todas as sensações momentâneas para poder voltar a elas quando quiser. Seria um erro não dedicar tempo a isso. Perder a possibilidade real de fazer um filme só com o poder da memória. Agora eu penso na noite em que descobrimos a diferença entre nostalgia e saudades. Sentimos nostalgia de coisas que sabemos que não voltaremos a ter. Revisitamos determinados momentos, com a consciência de ser apenas visitantes. A consciência de não os poder tocar mais. A nostalgia não tem nem o apego nem a ansiedade da saudade. É um sentimento resignado. E isso não é ruim, é calmo. É como ouvir um blues de thelonious monk: pleno.

Um comentário:

epicuro disse...

eu sinto ainda o sol daquele jardim, o sol totalmente ausente daquele xalé mofado de Maresias, o sol daquela praça dos cachorros onde líamos o jornal depois do café na padaria, o sol daqueles 7km que atravessávamos diariamente em Noronha, o sol do Sahy e da Baleia. você me ensinou a gostar do sol com nostalgia e a chorar de saudades.