sexta-feira, 16 de outubro de 2009

the boxer

eu falei com o meu pai sobre simon & garfunkel e ele me disse que sua preferida era mrs. robinson. combina mesmo com ele. mas ambos reconheceram quando eu cantei the boxer. essa semana eu encanei com essa musica. quando ela aparecia era como se a vitrola quisesse me dizer algo. quando eu resolvi prestar atenção na letra, eu entendi que era mesmo a musica sincronicamente colocada no momento certo. eu me assustei e você achou normal. com o fato de que há 40 anos alguém cantou a mesma coisa que cantamos hoje. chegamos todos às mesmas conclusões e elas não são tão triviais assim. eu só me pergunto se isso aconteceu mesmo há 40 anos ou tudo está acontecendo agora. pensando bem me parece natural que o passado simplesmente não exista fora do presente. que só exista o presente e por isso se uma frase dita há 40 anos salta agora da minha vitrola é porque na verdade essa frase está sendo dita agora. ela só existe no exato momento em que chega até mim. e para entender isso vc primeiro pensa no conceito de comunicação e na dependência intrínseca de bilateralidade. e em seguida faz ele atravessar o tempo. para um anjo cantar, é preciso que alguém esteja disposto a ouvi-lo. e isso é atemporal. dizer coisas que um dia soarão familiares e reconfortantes para alguém ao lado de sua vitrola é ser eterno. e para correr o risco de ser eterno basta dizer. basta se arriscar a dizer algo para já não se ter controle sobre a finitude da própria existência. mas de todo o jeito, ainda que não se admita tão explicitamente, nós não temos mesmo muito controle sobre a nossa existência. por isso eu não me assusto quando descobrimos aos poucos nossas vidas repetindo vidas de 40 anos atrás. ou quando descobrimos nossos olhares nos olhos do cantor folk ou nos olhos azuis da garota que mora sozinha no brooklin e grava programas de rádio em duas vozes. não é à toa que um dos meus filmes preferidos é a dupla vida de veronique. e quem disse que meus olhos não são azuis-escuros?

viajar é ir verificar algo inexprimível que vem da alma, de um sonho ou de um pesadelo. eu li alguma vez alguém falando isso, e agora penso que também vale para quando viajamos no tempo. vale para quando queremos viver agora o que existiu há quarenta anos. ser o antes e o depois ao mesmo tempo, sem precisar começar de novo. pois se tempo é só deslocamento no espaço e estamos gritando para todo mundo que não dependemos disso; que a força do nosso pensamento é mais importante do que o espaço físico. então, é só seguir em qualquer direção. é só seguir acreditando nos prazeres platônicos de um mundo sem toques. ou de toques delicados, que voam no vento.

nada demais aconteceu com nós mesmos. no fundo seguimos os mesmos, diferentes. quando eu era criança e ouvia alguém dizendo que tinha mais de trinta, não estava no meu campo de possibilidades imaginar eu mesma com essa idade. eu não podia imaginar um monte de coisas. não faz muito tempo que as coisas com as quais eu sonhava só existiam no tempo de um suspiro. mas agora é como se o tempo congelasse bem no momento desse suspiro. elas existem e, ao contrário do que eu pensava, tudo continua igual. notamos isso quando eu ainda não havia ouvido the boxer direito. sim, é preciso prestar atenção nas letras também. vc se sentia normal
diante do extraordinário e me perguntava se isso estava certo. normal, eu acho que isso significa apenas que mudamos tanto que agora conseguimos ver o que somos. e ser. “é preciso permanecer para mudar”, vc diz e eu concordo. eu também diria que precisamos mudar para permanecer. nada mudou desde que eles compuseram the boxer em 1968 ou desde que eles a cantaram no central park. em 81. embora tudo esteja diferente. now the years are rolling by me, they are rocking even me, i am older than i once was, and younger than i’ll be, that’s not unusual, no it isn’t strange, after changes upon changes, we are more or less the same…

não, eu também não acho estranho.

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