sábado, 10 de outubro de 2009

isolation


quando vocês foram embora, john continuou dizendo que não acreditava em nada. só nele mesmo. nós já havíamos falado das vantagens da imanência e do homem condenado a sua própria liberdade. e daqueles que não aguentam e preferem lamentar a própria vida e sentirem-se presos nela por ordem de deus ou do destino. formas transcendentais, que aliviam o peso da responsabilidade e que a transformam em culpa. e a culpa nesses casos parece algo muito arbitrário, que vem de fora. provavelmente de alguma igreja. i don't expect you to understand, ele canta. after you caused so much pain; but then again you're not to blame. porque conseguir ou não olhar o outro não tem afinal nada a ver com culpa. tem a ver com o presente. tem a ver com vencer o obstáculo sempre presente das palavras não ditas. a agressividade que no outro é tristeza e que deveriam ser ambas chamadas de amor. você de pé e nós sem saber o que fazer, nos perguntando ao mesmo tempo: what am i supposed to do? what am i supposed to be? nunca seremos. nunca seremos a mesma coisa para cada um de nós. porque eu sou diferente da projeção que você faz de mim e o que eu quero dizer é diferente do que o que você entende que eu digo - isso é inevitável. ainda que pareçamos simétricos do seu ponto de vista, isso é só uma ilusão de ótica. ainda que eu tente antecipar as imagens do que vc vai entender a partir do que eu digo, eu nunca chegarei perto. é inclusive possível que eu me afaste de você. e isso seria ruim. por isso quando nos encontramos em algum lugar longínquo dentro da teia de significados, é quase um milagre. é algo que pode fugir rapidamente de nós, se não soubermos olhar. há coisas que ninguém pode ver e que portanto não sabemos se existe. e por mais estranho que pareça, isso é uma espécie de princípio de sanidade. garante que sempre haverá a possibilidade de aparecer algo surpreendente. possibilidades randômicas, como uma roleta russa. nunca saberemos a hora certa. a conversa foi desconectada porque as nossas cores nesta noite não eram nem complementares, nem pastéis. as cores pastéis podem conviver perfeitamente entre si o tempo todo. não ocorrerão dissonâncias. as cores fortes nem sempre. depende da posição no círculo cromático, assim como a posição dos astros. quer dizer que vai ter noites que quando elas se juntarem na mesma sala, em volta da mesma vitrola, não haverá harmonia cromática. a noite não será calma. a noite será boa, mas estranha. será intensa. ficaremos cansados. nossas retinas fatigadas. às vezes nos sentiremos isolados. e isso não é necessariamente ruim, porque nos alegraremos a cada encontro aleatório. isso quer dizer que vai ter um momento em que cada um vai dizer coisas desconexas, que cada um sentirá profundamente uma coisa diferente e não vamos nos entender mesmo. ninguém será culpado, nem responsável. mas por alguma razão você vai desistir de ir. vai tirar os sapatos, deixar a bolsa no canto e sentar-se no sofá novamente. isso é conseguir ver o outro mesmo quando o fog está denso. o vinil acaba de tocar e eu tenho preguiça de levantar para virar o lado. é que às vezes eu acho que nossos dramas são tão imaginários quanto a nossa felicidade. mas também pode ser exatamente o inverso.

2 comentários:

t. disse...

estou pirando nesse disco!
plastic ono band é demais.
i just believe in me.

leila fletcher disse...

sabia que vc nos entenderia!