terça-feira, 13 de abril de 2010

ho-ba-la-lá uma canção

- Eu sou tímida.

- Não parece.

- Só a minha fisioterapeuta entendeu isso. Olhando para o movimento inercial dos meus ombros.

- Eu jamais diria.

- Timidez não tem nada a ver com o quanto se fala. É só uma certa tendência à incomunicabilidade.

- Isso parece uma ameaça.

- Não. Mas pode ser um aviso, tipo manual de utilização.

- Eu gosto do seu sorriso.

- Eu gosto de quando vc aperta os olhos para enxergar melhor o que está perto.

- Talvez eu tenha que trocar de óculos.

- Como se roubar o meu diário adiantasse.

- Eu não li o que veio antes de mim.

- Eu não dou a mínima. E não reconheço proibições. Essas duas frases são de um amigo meu, mas leia como se fossem minhas.

- O que vc é dele?

- Ele pressente quando eu estou para chegar.

- (...)

- O meu professor de yoga me contou que quem tem pino em alguma parte do corpo sente quando vai chover.

- (....)

- Alguma coisa a ver com a sensibilidade à mudança de pressão atmosférica.

- (...)

- Vc sabe mais de mim do que eu de vc... Mas na real eu não ligo.

- (...)

- E os seus silencios não me incomodam.

- O que vc quer saber?

- Nada. Só o que vc quiser contar. E qual a sua música preferida do Bob Dylan.

- A sua é it aint me babe, não é?

- Vc se lembra?

- Sim. (Vc me disse isso no dia em que usava brincos cor-de-laranja, iguais nas duas orelhas).

- É. Mas depende da época. E nem sempre a mais importante é a que está no primeiro lugar. (E eu normalmente uso um brinco diferente em cada orelha porque não gosto da sensação de simetria).

- (...)

- (Simetria não tem nada a ver com reciprocidade).

- Todas as canções têm prá contar.

- O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo.

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