sábado, 17 de abril de 2010

porque é muita liberdade poder dizer: tell me why. e muitas vezes é só o que resta.




After the gold rush é um dos melhores álbuns do século. E se vc nao é daqueles que se abala por falsas questões, vai encontrar nele uma musica para cada um dos temas pelos quais vale a pena sofrer. After the gold rush é para ouvir com atenção, sentar tranquilo e se concentrar só nele. Um lado após o outro, prestando atenção nas letras. Foi essa a advertencia que o dono da banca me deu quando me vendeu esse vinil. Na hora soou qse uma ameaça e se eu nao parecesse levar a serio o conselho, talvez ele nao me vendesse. E eu pensei que isso era coisa de velho louco colecionador. Não era. Qualquer um que conhece, desenvolve amor por esse vinil. Um amor que vc guarda para poucas coisas. As que entram na lista das melhores do mundo. E eu sempre sigo o conselho daquele velho magro, que tá sempre usando alguma camisa preta de banda de rock progressivo. Mas ontem nós dois precisávamos de uma cerveja. Havia urgência, por isso terminamos de ouvir tell me why, pedimos desculpas para o tio young e paramos a vitrola no começo da segunda música do lado A, que a essa altura ja tava tocando pela segunda vez da noite. Levamos menos de cinco minutos para chegar no nosso bar preferido. Um dos ultimos bares decentes do meu bairro. E ele fica virando a esquina de casa, a mesma distância da padaria. Nesse caminho era como se ainda tocasse a musica. Eu assoviava. Parava. Você cantaralova.
– Eu acho que essa frase é universal.
– Pode crer. Vc pode falar isso pra qualquer um.
– E em qualquer situação.
– Vc pode falar isso pra um psicopata serial killer e pro garoto que te deu um bolo numa noite de sábado.
– Vc acha que a gente tem uma tendência natural a buscar explicações?
– Acho que mais ou menos.
– Será que é porque a gente tem medo do irracional?
– Não, acho que é porque temos medo da solidão. POrque se fosse só eu comigo mesmo, era mais fácil. Não precisava explicar nada, nem pedir explicações.
– Pode ser, não tinha pensado desse jeito. Prá mim era mais um lance de - pô, fala sério. Porque quando vc olha prá alguém e pergunta por que, leva o outro a se ligar. A pelo menos assumir posição.
– Se vc vivesse sozinho no mundo, as razões não teriam importância. Se fosse assim a coisa tava fácil. O lance é que a gente tem que convencer o outro.
– Faz sentido, porque no fundo vc não quer ficar pirando e curtindo o lance sozinho.
– Obvio.O legal é convencer os outros a entrarem na sua viagem. Nas coisas que te fazem pirar.
– Na real, se vc convencer só uma pessoa já basta.
– É. Daí vc entende um pouco mais o q é o amor. Tá bem próximo de uma urgência em se comunicar.
– É isso aí mesmo.
– O meu analista diz que relacionamento é só poder dar um tempo de si mesmo. Poder se perder um pouquinho do próprio ego. Por isso é que é bom.
– É. Também acho. Deve ser por isso que quando eu não me suporto, eu tô mais promiscuo.
– Prá se perder bastante. E em muitos...
- (...)
- Sabe que eu tô achando bom voltar a mim mesma um pouco nesta noite...
- É foda essa sensação. Saudades de si.
- Essa é a hora que vc tem q seguir o conselho do tio do vinil.
- Eu cansei de porto alegre porque já não encontro descanso de mim lá.
– A gente tá sempre oscilando entre os dois extremos. E ao mesmo tempo tentando ficar em pé.
- Eu só queria ter que não carregar sozinho os meus instrumentos.
- Se vc ler a letra de tell me why, vai ver que é perfeita pro que a gente tá vivendo, só que com uma diferença de grau.
– Pode crer.
– Chega uma hora que tell me why é a penultima coisa que se tem a dizer. Porque a última mesmo é poder falar: you could write a book on how to ruin someone's perfect day.
– Essa frase é do caralho.
– A gente podia fazer uma camiseta escrita: tell me why.
– Vamos. POrque essa é mesmo foda. É um statement. E nem precisa botar o ponto de interrogação.
– Não precisa.
– Tell me why, é tell me why, cara.
– É, não é uma pergunta. É um imperativo.

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