quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Past is present now



Já quase não nos conhecemos mais. Já quase não somos as mesmas. Dizemos coisas que não queríamos dizer. Dizemos coisas para simular normalidade. Coisas com sentido. Encontrar o tom correto para falar. Encontrar o fio da razão e seguir junto a ele. Como as crianças do jardim da infância quando saem para passear na rua, em fila, de mãos dadas para não se perderem. Existe sempre o risco de se perder. De esquecer o próprio nome. Mas tentamos evitá-los a muito custo. E assim corremos o risco diário de decidir seguir, sem perguntar para onde nos levam. Fazemos comentários de quem lê os jornais todos os dias e usa sapatos para sair na rua. Pelo menos eu sempre falo em uma língua que não é a minha. Nunca se é si mesmo em uma língua estrangeira. E eu me sinto protegida por isso. Eu me sinto livre para usar como quiser palavras que não significam nada para mim. Não há limites. Nunca serei descoberta. Falamos sobre sacerdotes e sua prepotência de permanecer intocáveis. E no fundo tudo o que queremos é permanecer intocadas. Tudo o que tememos é permanecer intocadas.
Nunca conseguimos realmente sobreviver à experiência de não estar. De não nos encontrarmos todos os dias no parque. De não nos encontrarmos todos os dias na biblioteca e sair para fumar e comer sanduíches de queijo. De não termos mais as ruas de uma cidade suja e barulhenta para lamentar. De não termos mais bicicletas para roubar. Você agora fala sobre a descalcificação dos ossos e sobre seu novo trabalho. Uma existência que parece se justificar por si só. Uma maneira de não se perder, de não desviar, de camuflar-se. Como uma nova manifestação de um velho fenômeno, percorremos os mesmos assuntos. Para confirmar que algumas coisas continuam ali. Que os lugares vazios ainda não foram preenchidos . Que há ainda lugar para nós mesmas.

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