quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Where the sad-eyed prophet says that no man come




A estrada nos fazia subir as montanhas passando pelo meio da floresta. O farol do carro revelava só um pouco do que havia ali. O céu, quando se via, tinha a mesma cor quase negra de tudo o que me circundava. Eu me sentia protegida pela escuridão profunda. Você entenderia finalmente de onde veio se estivesse estado onde estive hoje. Um prédio construído em 1707, em um vilarejo no alto da montanha. Havia sido um convento, uma casa linda de 17 janelas, ao lado de um riacho. Difícil acreditar que aquele lugar existe no mesmo mundo em vivemos, na época em que vivemos. Dentro, o aquecimento era feito do mesmo modo que há dois séculos: o forno construído no centro da casa, irradiando calor para todo o resto. E eu me sentia no útero do mundo. O repertório de móveis, onde você também reconheceria o seu lugar, consistia em paredes, mesas e cadeiras de madeira. Almofadas e cortinas floridas. Mulheres de bochechas vermelhas vestindo saias longas com aventais brancos. Um vaso em forma de ganso. Retratos pintados à mão. Um gato gordo passeava calmamente ente as mesas. Pessoas que pareciam estar sentadas ali desde sempre e para sempre. Eu também poderia ficar. Eu poderia viver do som da água batendo nas pedras, do barulho do vento balançando a copa das árvores já quase sem folhas, do estalar da madeira que queima para nos aquecer e da escuridão da noite sem iluminação pública. Coberta por uma massa espessa de passado, de neve, de silêncio e de distância, talvez minha cabeça pudesse finalmente descansar.

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