domingo, 23 de novembro de 2008

Ruído sujo

A neve produz um efeito sonoro interessante. Ela abafa todos os sons. Os divide ao meio. É como se uma parte deles fosse absorvida por ela. E sobrasse apenas o melhor. Sem dissonâncias ou agudos incômodos. É um jeito diferente de produzir silêncio. Ou uma forma específica e agradável de surdez. Aposto que ninguém usa tampões para ouvidos quando neva. Não é necessário. É quase como se não houvesse gravidade. Como se toda a queda fosse amortecida. E já não houvesse surpresas. Se você estivesse aqui, eu te diria muitas coisas. Eu te diria qualquer coisa. Eu nem sequer pensaria antes de dizer. Talvez haja coisas que eu só vá te dizer quando estivermos sozinhos na neve. Porque elas soariam melhor. Eu teria certeza de que elas cairiam no macio e que você ouviria apenas a parte bonita do que eu seria capaz de te dizer. E então você sorriria para mim.

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