domingo, 4 de janeiro de 2009

Acabei de fazer um programa de radio para você. Enquanto aí, você cria colagens, aqui, eu crio programas de radio. Recorto frases que colo sobre músicas tentando encontrar um novo significado para as horas que passam como se não houvesse nada a ser feito, exceto estar. Às vezes a plenitude está contida na própria busca e não é preciso entender para estar. O primeiro programa foi hoje e eu vou tentar te enviar agora. Tomara que dê certo. Gostaria que você transferisse essa faixa para o seu ipod. E gostaria que você me escutasse, como se eu estivesse aí, com você. Pode ser um jeito de acalmar um pouco a nossa solidão. 

Hoje percebi que já havia um longo tempo que não me divirto com as artimanhas da distancia. Notei que somos como aqueles apaixonados de contos antigos tentando, a todo custo, encontrar um meio para estar próximo. Acho que somos adultos que sabem que é sempre preciso voltar ao antes de agora. Quando éramos quase pequeninos. Correr entre duendes e se maravilhar com coisas tão ínfimas que não pretendemos entender para saber o quanto elas existem sobre nós.

Quando penso em você vejo suas frases se equilibrando nos fios da neblina. Elas sempre encontrarão alguma forma de subir. E de tocar os que pensam que estão vivos. Os que sabem que habitam um lugar diferente de nós. É complicado, mas talvez eles, os que não são nós, sirvam para nos chamar ao chão. A âncora não é desnecessária, só os tolos não percebem. O chão é lugar quase sempre tão difícil de se estar, mas que, se descoberto possível - como agora você o descobre, é digno de ondas de euforia seguidas de marés calmas, quase sem existir. E não tema flutuar sobre o real. Não tema temer perder-se o chão. O momento em que te encontra é o momento máximo do deslumbramento. Do não caber-se em si diante das terras que descobrimos dentro de nós mesmos. Dance sobre a sua morte. Talvez seja a primeira vez que morremos de prazer. Às vezes me derreto em sensações que não consigo explicar. E quando me vejo perdido na correnteza de mim mesmo, sorrio confortável para o céu que desce um pouco mais para perto de mim. E nessas horas saem frases bonitas sem nada a dizer. A beleza por si só. Ou coisas que não deveriam ser contadas.

Hoje teve por-do-sol. Andei de carro por muitas horas, segui por pequeninas estradas de terra. Por pátios floridos. Por casas velhas. Por gramados onde adolescentes corriam. Por beras de estradas onde jovens mediam a potencia das suas motocicletas enquanto bebiam coca-cola debaixo do sol. Tres senhoras levavam flores ao cemitério e uma delas chorava. A velha acenou quando passei. Seguir sem rumo por pequenas estradas do interior é como encontrar um pouco mais de mim em cada curva vencida. Nessas horas é sempre preciso estar só. Quando me perco na estradas tenho um encontro importante demais comigo mesmo. Demais para ser dividido com estranhos. Se você estivesse aqui eu sei que você não seria uma estranha. Talvez se sentisse em um pais estranho, sem nome, mas não seria nada muito diferente daquilo que eu sinto também, mesmo sendo daqui.

Hoje os meus pensamentos estão confusos e eu deveria querer ordená-los, mas não. Sinto saudade e minhas pálpebras caem. Em alguma terra misteriosa, se você agora também estiver dormindo, um vulcão espera para nos acordar. Talvez a gente saiba dançar sobre explosões iminentes. Mas jamais aprenderemos a fingir que nada está acontecendo.

Escrevo um livro novo. É como se ele tivesse começado de trás para a frente. O nome, que normalmente é o ultimo a chegar, dessa vez foi o primeiro.

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