domingo, 4 de janeiro de 2009


Hoje eu me senti muito sozinha sem estar. E isso me deu muita tristeza. Porque eu percebi que eu estava já sozinha há um tempo. Que estava sem me dar conta ouvindo há um tempo o eco do que eu mesma dizia, que voltava pra mim depois de bater no vazio. Que o fog desta cidade estava repleto de palavras minhas que ficaram no ar. Que se perderam de mim para sempre. Eu me senti cansada. Cansada de ser responsável por produzir esses ecos. Cansada de tentar traduzir o mundo para os que não querem tocá-lo. Eu não pretendo ser profeta deste mundo para os que estão ainda presos em algum lugar que não é o presente. Talvez seja mesmo difícil argumentar racionalmente a favor do presente. A questão é que eu não espero mais por argumentos racionais. Todas as perguntas importantes que eu já me fiz na vida não podem ser respondidas por eles. Então, eu apenas aceitei o mistério. Eu também posso aprender a partir dos segredos. E eu percebi que os segredos nos impulsionam e não precisamos fazer nada a respeito. Só aprender a viver junto com eles. Eu não quero mais destruir os segredos. Não preciso mais tentar decifrá-los. Ou buscar respostas para perguntas que não podem ser respondidas. Eu quero ser apenas eu mesma me divertindo com o que eu tenho ao alcance da minha mão e isso basta para mim. Então eu pensei em você tão longe do alcance da minha mão e o dia ficou mais difícil. Talvez eu precisasse de um pouco mais de cumplicidade hoje. Porque às vezes pode ser duro amar seres sem gravidade. E às vezes eu penso que não terei energia suficiente para trazê-los para perto de nós.
Eu leio o que você escreve e parece que você está habitando um lugar que eu conheço muito bem mesmo sem conhecer. Provavelmente porque minha mãe também fazia lasanha aos domingos. Porque eu também tenho muitos primos e as pessoas da minha família sempre beberam além da conta. Porque somos sobreviventes do colégio de freiras da mesma congregação. Porque um dia eu li uma frase sua na agenda do colégio numa quinta-feira de manhã e é como se eu já te conhecesse desde então. Talvez a gente se conheça há quinze anos. Talvez a gente tenha a idade da sua vitrola e apenas não contamos. Talvez um dia você queira ir até a minha casa com o dvd do bowie e uma garrafa de vinho. Talvez. Porque ultimamente eu ando achando que a idéia de estar perto de mim é melhor do que estar perto de mim de verdade. E eu tenho medo de me tornar um fantasma. Eu me pergunto se seres sem gravidade e fantasmas habitam o mesmo espaço. Eu me pergunto até quando poderemos viver assim. E essas são algumas das perguntas sem respostas de que eu falei antes. Perguntas que flutuam calmamente pelo ar desta cidade, assim como os flocos de neve. Prontas para chegar ao chão e desaparecerem. E serem esquecidas.

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