segunda-feira, 5 de janeiro de 2009


Essa noite eu tive febre e acordei gripada. Meu corpo dói e eu acho que isso foi só uma maneira de somatizar o meu cansaço. Eu passei o dia deitada na minha cama ouvindo o meu ipod. Eu queria ter a sua música aqui, mas eu também sei esperar. Eu posso esperar para ouvi-la no dia em que puder te mostrar a cidade e não apenas as paredes do meu apartamento. Eu ouço julee cruise agora e me sinto como ela, flutuando enquanto o mundo gira. Da minha cama, eu ouvi as crianças do andar de cima saindo para a escola e ouvi quando elas voltaram. Elas batiam os pés no tapete da entrada para tirar o gelo dos sapatos. Eu vi a papelaria que fica em frente à minha janela abrir, fazer pausa para almoço e fechar. E vi a vendedora passar horas sozinha com o seu computador, igual ao meu. Eu me perguntei onde ela estaria. Alguém estudava piano. Não era tão ruim, mas logo parou. Poucos carros passaram por aqui hoje. Eu ouvi de longe alguns cachorros latindo. Não há pássaros por aqui. Ou eles são silenciosos. As janelas são duplas, para nos proteger do frio e nos isolar do mundo externo. Mas os vidros deixam o sol entrar, embora ele não tenha durado muito. Eu pude passar horas de olhos fechados, intercalando a minha música com os sons abafados da cidade. Eu só me lamentei por não ter ainda comprado os meus fones de ouvido novos, aqueles que são capazes de nos isolar do mundo, assim como as janelas duplas. Talvez isso seja necessário de tempos em tempos. Me disseram que os fones que tenho agora não me deixam ouvir o baixo das músicas e eu comecei a brincar de imaginá-los. Isso para mim se tornou uma espécie de meditação. Eu estou bem perto de mim mesma agora. Eu sinto que a gripe deixou os meus fluídos mais espessos e mais lentos. Acho que as células também estão demorando mais para fazer osmose. Os meus pensamentos ficaram mais pastosos também. Quando meus olhos fecharam e eu caí no sono várias vezes ao longo do dia, meus sonhos foram agradáveis. Pareciam estar em câmera lenta. Finalmente uma trégua do meu subconsciente. Minhas vias nasais estão entupidas e eu presto atenção a cada inspiração e a cada expiração. Eu faço isso lentamente lembrando da lenda indiana que diz que nascemos com um número contado de respiraçoes para usar durante a vida e apenas podemos prolongá-la se respirarmos devagar. Mas pensar nisso já não me faz temer a morte. Eu aproveito a vida em suspensão, vista daqui debaixo da minha coberta. Seria essa a maré de calma de que você fala? Por alguma razão que eu não sei explicar, eu gosto muito desse estado. Quando eu era criança, eu gostava de ficar doente para faltar na escola. Eu senti a mesma sensação hoje, mesmo não tendo mais escola para freqüentar. Você tem razão. Eu me sinto hoje muito mais perto do que eu era antes. Eu sabia muito menos, mas a tinha a beleza de quem não tem nada a perder. Hoje eu entendo que continuo não tendo nada a perder. E talvez volte a ser bela. Essa é a mesma beleza do pôr-do-sol. Eu penso no pequeno espaço da cama que eu ocupo agora. Eu quase não me mexo e não faço barulho. E me pergunto se isso faz alguma diferença. Eu fecho os olhos e me sinto feliz por habitar essa pequena massa que é o meu corpo, neste pequeno metro quadrado de colchão macio. E me alegro por ter aprendido a fazê-lo flutuar. Como a poeira que você deixa para trás na estrada que percorre com seu carro. Pense em mim quando olhar pelo retrovisor. Eu estarei cantando. Moving near the edge at night, dust is dancing in the space. A dog and bird are far away. The sun comes up and down each day. Light and shadow change the walls. Halley's comet's come and gone. The things I touch are made of stone. Falling through this night alone.

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