quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Berlin. Faz uma semana que eu passo os meus dia apenas deslizando pelas calçadas desta cidade e respirando ar frio. Apenas experimentando as sensações. E é como ter David Lynch dirigindo o que eu vejo a todo o tempo. Todos os sentidos captando sinais muito intensos todo o tempo. A possibilidade de ser alguém diferente convivendo todo o tempo com o que eu sou agora. Basta pegar um ônibus. Fácil como andar uma estação de U-Bahn e baldear para uma linha de S-Bahn ou o contrário. E de repente perceber tudo o que você diz fazendo sentido na minha frente. É engraçado enxergar a metáfora da nossa própria vida durante um ato quase automático. Um ato que todo mundo faz com a cabeça em outro lugar, pensando no que veio antes ou no que vem depois. Eu não. Não mais. Mas esta é só mais uma das epifânias berlinenses.
Tem muito a ser descoberto aqui. E isso me parece cada vez mais quase infinito, porque os lugares que eu não conhecia e os que eu já conheço são a mesma coisa. Todos eles parecem novos porque me trazem uma sensação nova. De alguma forma, eles sempre serão novos. Eles me dão calma agora. Eu não tenho mais a ansiedade que eu já tive das outras vezes que estive nesta cidade. Porque é como se a cada passo eu entendesse que eu faço muito sentido aqui. E quando finalmente entendemos algo e temos certeza de algo não é necessário mais ter ansiedade. É só uma questão de tempo. Um dia você estará aqui. E possivelmente estaremos juntos. É só uma questão de tempo. Eu sinto um estranho relaxamento aqui. E talvez você entenda isso. É como se eu me dissolvesse na cidade. Esta cidade sou eu e eu sou esta cidade. Aqui é possível deixar de habitar mim mesma. Podemos nos esquecer um pouco e sair dos nossos próprios corpos sem estar em um lugar estrangeiro, sem sentir frio, nem medo. É leve estar aqui, porque podemos finalmente confiar no que há a nossa volta. Não precisamos ser responsáveis por tudo. Não precisamos nos proteger do que vem de fora. O entorno não é agressivo. A beleza dessa cidade é a nossa beleza. Todos entendem o que queremos. É possível se comunicar só com olhares. Não precisamos ouvir o nosso ipod o tempo todo porque o som ambiente é bom. Não precisamos cuidar o tempo todo para garantir o bom-senso e o senso estético. Estar aqui é como estar em nossa própria sala de estar.

Have a great new year full of good times!

Nenhum comentário: