domingo, 14 de dezembro de 2008

Deep blogging

Há anarquia e caos dentro de mim. E momentos generosos de calma. Porque o caos não me assusta mais. Porque eu não me importo mais em não acreditar em nada. Em não ter certezas. Em não entender. Eu estou satisfeita com o que eu já entendi. Entendi que somos como um mar revolto de emoções, desejos, sentimentos e sensações. Inconstantes, inexplicáveis, explosivos. Pouco confiáveis. E lutamos com todas as nossas forças para impedir que toda essa turbulência transpareça. Liberamos diariamente parcelas bastante comedidas disso tudo, tentamos controlar seu fluxo, dar a impressão de que vivemos em um lago calmo. De que somos pessoas boas, cidadãos éticos, filhos gratos, parceiros compreensivos. Até quando viveremos nessa represa? Até quando precisaremos dela? Até quando seremos fantasmas de nós mesmos? Miniaturas tristes dos seres marinhos que nos habitam.
Eu cansei de ter sonhos agitados, naufragar nesse mar bravo todas as noites e acordar no dia seguinte como se fosse segunda-feira de manhã. Como se tudo o que eu precisasse fazer fosse tomar um banho quente, café da manhã e ir para o trabalho. Como se nada. Controlamos nossos impulsos, escondemos nossas potencialidades, disfarçamos a nossa raiva, em prol de uma pretensa necessidade de socialização. Em prol de nos mantermos pessoas funcionais. Alguém que trabalha em uma linha de montagem não pode querer desenvolver toda a sua criatividade. Deixamo-nos convencer pela idéia de que se todos pudessem desenvolvê-la livremente a reprodução material do sistema seria inviável. Mas eu duvido que morreríamos de fome ou de frio. Eu acho que deveríamos pelo menos tentar. Eu prefiro me alimentar de outra coisa. Prefiro socializações que não tenham o verniz de falsidade. E não me importo mais em inviabilizar o sistema. Ou ser declarada supérflua para ele. Eu não preciso deixar herança. Nem filhos. Há muita coisa que me parece não mais valer a pena. Esforços inúteis. Energia mal gasta. É preciso um pouco mais de coerência na vida. E menos medo de ser julgada. É preciso não mais ter que morrer às segundas-feiras de manhã.
De alguma forma eu cheguei a achar que se eu dissesse todas as coisas que eu penso sobre a vida e sobre o mundo e sobre mim mesma eu poderia ficar sozinha. Eu provavelmente tive medo de não ser amada. Porque eu poderia tornar árdua a tarefa de quem se habilitasse a. Eu poderia dizer coisas que machucassem quando eu fosse sincera. Eu poderia agir impulsivamente e me transformar em um ser irracional. Eu achava que seria mais difícil viver com tudo na superfície. Trazer para a luz do dia toda a beleza e a sujeira que há em mim. Coisas que não precisariam ser ditas. Perguntas que não temos tempo para responder. Um excesso de humanidade talvez. Pouco conveniente talvez. Mas quem tem o poder de dizê-lo? As pessoas que usam o meu nome no diminutivo e que se frustrariam ao não me encontrar doce e inocente? Eu achava que meus segredos eram indizíveis, até ter vontade de dizê-los todos. Os tabus me atraem e eu quero experimentá-los todos. Eu comecei a dizer coisas absurdas para você e você não deixou de me amar. Talvez não as tenha achado tão absurdas. Talvez só agora tenha começado a me amar de verdade.
The morning I’ll be with you, I’ll be a different king of person. I’ll be me.

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