terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Flohmarket










Eu gosto de objetos. Porque acho que todos eles têm um potencial não instrumental. E isso não depende de Duchamp. Sempre foi assim, talvez não tenhamos percebido até então. Eles podem significar muitas coisas nas vidas das pessoas. Podem concretizar momentos, sentimentos, relações. Algumas vezes eles se personificam. Mas também podem apenas acumular o hábito de estarem na mesa de canto da mesma sala por anos. Ou apenas acumular poeira. Não importa. Gosto de objetos usados porque sei que cada um carrega uma história própria e desconhecida. Trazem sempre um mistério consigo. Uma espécie de alma talvez. Marcam um ponto no tempo e no espaço entre as possibilidades do que foram no passado e as possibilidades do seu futuro. Coisas inacreditáveis e improváveis são expostas nas bancas dos mercados de pulgas, esperando que alguém as olhe de um jeito diferente e lhes dê um novo sentido. Coisas que estão prontas para nascer de novo. Contrariando tudo o que foi enunciado sobre a lógica perversa da obsolescência das mercadorias. Os mercados de pulgas são pequenos focos de resistência. São sempre a promessa de uma nova vida, sem esquecer ou jogar fora o passado. Ao contrario, a partir e por causa dele.

Um comentário:

Ana Teixeira disse...

Os objetos sem função têm muito apego pelo abandono.

(Disse-o Manoel de Barros)