domingo, 7 de dezembro de 2008

Forms of otherness


Foi você que me levou para o seu mundo. E descobriu algo em mim que eu não conhecia. E eu também não sei mais se é possível delimitar o que é seu e o que é meu. O que sou eu e o que é você. O que é a minha voz ou o eco dela. A sua ou o eco dela. Quando eu falo com você é como se eu falasse comigo mesma como outro. Um selbst que está conscientemente perante o selbst de outro e torna-se assim um outro em relação a si mesmo pelo fato de se ouvir falar e dar respostas a si mesmo. Esse "eu" não mais me pertence. E se isso é compreender a origem da pragmática da linguagem, eu acho que fomos muito mais longe. Você me mostrou que a linguagem pode ser muito mais que comunicação, expressão ou poesia. Construímos com ela um território livre incorpóreo. Uma bolha que podemos habitar sem estar e não nos sentir sozinhos estando. Um refúgio para onde nos deslocamos sem os nossos corpos. E isso é muito mais do que a nossa já conhecida tendência ao platonismo. Porque não se trata de observar sombras desde o lado escuro da caverna. Daqui, podemos ver as mesmas coisas, comer a mesma comida, ouvir a mesma música, sonhar os mesmos sonhos. E nos tocar. Daqui, provamos que Goethe é insuficiente. Que afinidades eletivas são muito mais que deslocamento de moléculas. Tem mais a ver com magia do que com física. Algo mudou quando finalmente nos reconhecemos. E talvez tenha sido mais do que as nossas próprias vozes. Percebemos que, sendo dois, algo poderia acontecer. Um rio poderia então passar.

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